Novas pedagogias para o século XXI

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Por Marcela Moura Almeida

A partir dos anos noventa, diversos estudos científicos sobre as emoções vêm transformando os paradigmas da educação em todo o mundo. Os avanços da tecnologia permitiram que pesquisas na área da psicologia científica, da biologia e da neurociência pudessem mapear o circuito das emoções em nosso cérebro. Com isso, ampliaram-se os estudos sobre a influência das emoções nos processos de aprendizagem e no desempenho de habilidades fundamentais para o desenvolvimento humano.

Essas descobertas, ainda que não se apliquem de forma direta e imediata à educação, proporcionaram novos conhecimentos, inspiraram objetivos e estratégias educacionais, construindo novas pedagogias para o século XXI. A exemplo disso, temos professores pesquisadores, como Daniel Goleman e Claudia Tieppo, que colaboram com a educação a partir de seus estudos em psicologia científica e neurociência.

Na escola, essa contribuição vem se tornando uma realidade cada vez mais presente, por meio de programas de aprendizagem socioemocional, que se propõem a fortalecer a capacidade dos estudantes de aprender, compreender e gerir emoções, sentir e demonstrar empatia, tomar decisões responsáveis, entre outras.

Pesquisas mostram os impactos das novas pedagogias para o século XXI

Pesquisas para compreender os impactos desses programas já foram realizadas e demonstraram resultados positivos. Entre elas, destaca-se a meta-análise conduzida por DURLAK et al. (2011). A partir dela, constatou-se que o modelo de programas mais efetivos é aquele implementado pelo professor regente de sala de aula e que segue um currículo, assim como nas outras disciplinas escolares. Os achados desse estudo revelam que os estudantes envolvidos nesses modelos de programas desenvolveram habilidades, atitudes e comportamentos que refletiram em uma melhora de 11% em seu desempenho acadêmico.

No Brasil, a divulgação da nova versão da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) acrescenta como diretriz o ensino de habilidades e competências alinhadas aos propósitos da aprendizagem socioemocional, para todas as escolas de Educação Básica, com o intuito de direcionar a educação brasileira para uma formação humana integral dos estudantes. 

Em consonância com a aprendizagem socioemocional, a BNCC estabelece a efetivação de competências como o exercício da empatia, do diálogo, da resolução de conflitos e da cooperação. A nova Base defende a promoção do respeito ao outro e aos direitos humanos, com acolhimento e valorização da diversidade de indivíduos e de grupos sociais, seus saberes, suas identidades, suas culturas e suas potencialidades, sem preconceitos de qualquer natureza (BRASIL, 2016). 

Além disso, estimula o autoconhecimento, a apreciação e o cuidado da saúde física e psíquica, compreendendo a diversidade humana e reconhecendo emoções pessoais e alheias, com autocrítica e capacidade para lidar com elas. Ressalta, ainda, a autonomia e a responsabilidade das ações do indivíduo e do coletivo, com flexibilidade, resiliência e determinação em tomadas de decisão com base em princípios éticos, democráticos, inclusivos, sustentáveis e solidários. (BRASIL, 2016).

Ainda que a aprendizagem socioemocional venha ganhando força nos últimos vinte anos, sabemos que a preocupação com comportamentos pró-sociais e a formação integral do aluno já são parte dos objetivos da educação há muito mais tempo. Autores e teóricos da educação afirmavam que a aprendizagem humana comportava elementos sociais, emocionais e afetivos. Como é o caso de Vygotsky (2001), por exemplo: “Quando falamos da relação do pensamento e da linguagem com os outros aspectos da vida da consciência, a primeira questão a surgir é a relação entre o intelecto e o afeto”. Henri Wallon (1879-1962) colocava a afetividade como um dos aspectos centrais do desenvolvimento humano. E, segundo Maturana, “o conhecimento é inseparável do processo de viver, e a emoção é o grande referencial da ação humana” (2001).

Portanto, a importância dos aspectos socioemocionais nos processos de ensino e aprendizagem é mais do que comprovada e urgente. O que se espera agora é que  ela se torne, de fato, um direito fundamental de cada um dos nossos estudantes brasileiros.

Marcela Moura Almeida é diretora pedagógica do Instituto Vila Educação.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria da Educação Básica. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, DF, 2016. Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/#/site/inicio. Acesso em: 8 dez. 2020.

COLLABORATIVE for academic, social and emotional learning. CASEL guide: Effective social and emotional learning programs. Chicago, 2013. Disponível em: https://casel.org/guide/. Acesso em: 8 dez. 2020.

DURLAK, J.A.; Weissberg, R.P.; Dymnicki, A.B.; Taylor, R.D.; Schellinger, K. The Impact of Enhancing Students’ Social and Emotional Learning: A Meta-Analysis of School-Based Universal Interventions. Child Development, 82, 405-432, 2011. Disponível em: /PDF-3-Durlak-Weissberg-Dymnicki-Taylor-_-Schellinger-2011-Meta-analysis.pdf. Acesso em 8 dez. 2020.

GOLEMAN, Daniel. A inteligência emocional. Rio de Janeiro: Objetiva, 1995. 

GOLEMAN, Daniel. Educação Socioemocional. Pós-graduação em Educação Transformadora: Pedagogias, Fundamentos e Práticas. PUC-RS. 2019.

GUERRA, L. B. O diálogo entre a neurociência e a educação: da euforia aos desafios e possibilidades. 2019. Disponível em: https://www2.icb.ufmg.br/neuroeduca/arquivo/texto_teste.pdf. Acesso em: 9 dez. 2020.

INSTITUTO Vila Educação. Disponível em: http://vilaeducacao.org.br. Acesso em: 8 dez. 2020.

MAHONEY, A. A.;  ALMEIDA, L. R. de. Afetividade e processo ensino-aprendizagem: contribuições de Henri Wallon.  Psicologia da educação, São Paulo, n. 20, jun. 2005. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/pdf/psie/n20/v20a02.pdf. Acesso em: 9 dez. 2020.

MATURANA, H. R.; VARELA, F. A árvore do conhecimento: as bases biológicas da compreensão humana. São Paulo: Palas Athena, 2001.

TIEPPO, C. Educação Emocional: o papel da neurociência na aprendizagem. Pós-graduação em Educação Transformadora: Pedagogias, Fundamentos e Práticas. VYGOTSKI, L. S. A Construção do pensamento e da linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

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