Planejamento e acolhimento na volta às aulas

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Por Débora Schäffer

São inegáveis os efeitos que a pandemia de covid-19 trouxe para a educação. As escolas tiveram que ser fechadas da noite para o dia, e o medo e a insegurança tomaram conta não só de nós, adultos, mas também das crianças, que em muitos casos ainda não conseguem compreender essa gama de emoções que estão experienciando.

Temos pela frente um desafio sem precedentes para a educação nessa volta às aulas. Cada criança retornará com uma carga emocional diferente, em um reencontro com sentimentos potencializados. A partir de agora, a educação não pode ser a mesma, precisamos incorporar competências novas no currículo.

Mas, para isso, precisamos estar preparados.

Além dos protocolos sanitários, que são indispensáveis para esse retorno, temos que falar sobre o acolhimento dos estudantes, professores e pais.

Os efeitos psicológicos mais imediatos da pandemia já foram confirmados, inclusive por meio de estudo. Uma pesquisa realizada na província chinesa de Xianxim (uma das primeiras regiões afetadas pela pandemia) com 320 crianças e adolescentes no retorno às aulas, ainda no primeiro semestre de 2020, apontou dependência excessiva dos pais (36%), desatenção (32%), preocupação (29%), problemas de sono (21%), falta de apetite (18%), pesadelos (14%), desconforto e agitação (13%).

Como preparar essa volta às aulas?

O primeiro passo deve ser proporcionar um espaço aberto e de troca entre todos os membros da comunidade escolar, para fomentar uma escuta ativa, cordial e assertiva. Reconhecer o quanto os educadores foram corajosos e inspiradores por se reinventarem tão rapidamente. 

Eles também precisam se sentir seguros e equilibrados para poder transmitir isso para seus alunos. Refazer os laços e as conexões, cultivando a empatia e a resiliência, que são de suma importância para o bem-estar de toda a comunidade escolar nesse retorno.

O segundo passo deve ser um acolhimento empático com os pais. Entender o que se passou nesse tempo de quarentena e identificar os pontos mais vulneráveis para maior suporte. Muitos ainda não se sentem confortáveis com o retorno, mas, quanto mais o tempo passa, mais as crianças sofrem com os efeitos desse distanciamento. 

A escola é um lugar onde as crianças não só aprendem os conteúdos em sala de aula, mas também criam um senso de comunidade, socializam e se divertem. Deixar os pais cientes de todo o planejamento para o retorno é importante para que eles se sintam seguros.

Agora vamos falar dos estudantes: eles irão encontrar uma escola muito diferente da que deixaram no ano passado. Novas regras, poucos alunos (retorno alternado), sem abraços, sem intervalo no pátio, sem ver o sorriso no rosto de seus amigos (pelo uso da máscara) e por aí vai. Como deixar tudo isso mais afetivo e resgatar a conexão? 

Aqui, mais uma vez, a escuta, o diálogo para compreensão dessa nova realidade e uma pitada de criatividade serão fundamentais. Além de ter espaços para compartilhar as experiências, exercitar a empatia pelos colegas, trocar e reconhecer o quanto foram guerreiros nesse momento tão delicado que estamos vivendo.

É importante voltar! Com cautela, planejamento e acolhimento, precisamos dar a essas crianças o que é de direito: educação!

Débora Schäffer é diretora do Instituto Vila Educação.

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